sexta-feira, 24 de maio de 2013

Para se tornar clichê

Eu seguro tua mão tentando deter o teu carinho no meu rosto. Você se irrita e vira para o outro lado. Eu arrumo teu cabelo enquanto você amarra meus sapatos.
Nós andamos na rua, mas não seguramos as mãos. Deve ser a vergonha de parecer um casal e ter que aguentar os olhares alheios. Mas eu te beijo a boca mesmo estando nós expostos na rua.
Eu te beijo quando meu corpo está dotado de desejo, um desejo sadio e vivo que inunda o ser pulsante que eu sou.
Eu pulso quando você pulsa, seguro a tua mão freando o carinho porque eu tenho medo. Medo de me doar para algo que não sei se sou forte suficiente para segurar. Eu não sou grande suficiente para engolir o amor que você me enfia goela adentro.
Você ouve quando eu grito um grito sem som?
É a minha alma saindo de mim. Sou eu me entregando...
Escrevo em você as coisas que eu queria ter inventado, inúmeras coisas que me representam, mas não são minhas.
Eu te afasto e te agarro num mesmo impulso.
Eu grito por você, mas quando você vem, eu te expulso.
Quando você me tem amor, eu tenho sufoco. Quando você não me tem nada, eu tenho carência.

Eu te escrevo porque eu não sei falar.

Tenho medo de sentir. O que eu sinto por dentro tem medo de segurar tua mão e não querer mais largar.

É vontade de casinha com cercas brancas, vontade de cores na casa e festinhas no quintal. É vontade do clichê. Vontade do demodê.

Vem desenhar o nosso mundo comigo, mas tem calma, por que eu só conheço o cinza.
Pega esse pincel e pinta a minha cama com as tuas cores.

Casa comigo. Eu, você, um gato, um cachorro. Um clichê. Moderno.