sábado, 16 de março de 2013

Tudo é divino e maravilhoso

Serve logo numa bandeja meu coração cru e coberto de sangue. Come logo com as mãos porque eu sei da tua pressa, sei da tua fome e tu bem sabe da minha também. Serve como banquete meu coração no centro da mesa, como um porco que nem a pele foi tirada, maçã na boca, olhos vivos e medrosos. Serve-me no centro da mesa, meu coração na boca. Faz isso para as pessoas olharem meus olhos vivos e medrosos, meus gritos silenciados pelo medo, meu desespero explanado na minha pele. Qualquer um que me vê consegue ver minha dor através da minha pele. Lateja. Lateja. Faz um prato de mim, me acompanha com o resto de mim, me engole, faz eu habitar dentro de você, faz eu te fazer viver, me traz pra dentro de você e alguma forma, mas não me deixa estragar ao ar livre.
Me faz você, me consome, me toma. Me faz ser você pelo menos na hora do jantar.
Sou tão ruim assim?


Choro por outra coisa, uma coisa além-tempo, uma coisa do passado que ainda lateja no meu presente. Um passado que, mesmo sendo água, não escorre entre meus dedos, permanece ali, petrificada, límpida e cheio de si.

sexta-feira, 15 de março de 2013

que amor era esse que não saiu do chão?

É preciso muito mais que segurar as mãos para gostar de alguém. Não dá pra competir com relações duradouras, enquanto o que se tem a oferecer é temporário e vago, tão diferente do que já está construído pelo tempo e pelo conforto.
Aquela que pensa em mim o dia inteiro gasta as horas com uma outra que lhe tem amor, mas é um amor que dói, que machuca e transborda pelos olhos como um balde cheiro até a boca, molha o chão, ensopa o tapete e inunda a casa.
Enquanto pensei em delegar a ti uma tarefa que ninguém poderia executar, eu ia me apaixonando pelo jeito que você pega a minha mão.
Mas de que são feitas as relações se não podem ser regadas de quereres e vontades? Até aonde vão as limitações do querer? Do querer, a saudade. A certeza de que faltou mil coisas a aprender, a desejar e a fazer com ela. Vontades estas que ficaram no passado, tarefas inacabadas que passaram do prazo de validade.
Não é preciso muito mais para existir saudade.