segunda-feira, 8 de abril de 2013

(e como)

"Você duvidou quando eu disse que ao passar na minha rua todos saberiam que te amo?" Porque eu pintei em todos os muros amarelos o teu nome de vermelho; pintei em todos os postes os teus cílios alongados; pintei em todos os portões o dia em que você sorriu para mim; colei em todas as janelas o desenho do teu coração dentro do meu; pendurei em cada árvore as nossas fotos em silêncio, apenas olhando um pro outro sem necessidade de falar; colori as calçadas com as tuas cores de flor, perfumei toda a fumaça com o teu cheiro de criança; pintei o céu de azul há muio tempo que até parece natural.

Você duvidou que você seria na minha vida esse vendaval? Mudou a ordem indesejável das coisas, mudou de cor o que antes não era nada. Colei tuas fotos dentro da casa querendo colar do lado de fora, só para que os outros pudessem ver os seus olhos castanhos, seus olhos de menina doce, doce seja. Pendurei um varal para você se pendurar, se quiser...

Você duvidou quando eu disse que ao passar na minha vida todos saberiam que te amo?
Eu te risquei em mim, como um rabisco, um traço de caneta mal feito, sem cor, torto.
As cores estão dentro, as tuas cores estão em tudo, na grandeza do balão que sustenta no ar a leveza da âncora.

Todos saberão que te amo. (e como)

segunda-feira, 1 de abril de 2013

hora do almoço

Sou uma panela de barro grande. Misturo em mim todos os ingredientes do mundo, atrás dos sabores mais diversos, buscando o sabor que não consigo dar nome. Misturo em mim o tempero de todo mundo, me alimento da diversidade do outro, a diferença do outro, do cheiro que o outro dar a casa. Dentro da minha panela, coloco pedaços das mais variadas pessoas, misturo com leite ou vinho, sal ou açúcar, afim de chegar no ponto exato do meu paladar. Experimento todos os pedaço separadamente, saboreando o que cada pedacinho me dá: sabor e êxtase. Paladar é êxtase. Orgasmos culinários. Eu mastigo todos os pedaço de todo mundo para, assim, me constituir no meio do meu ego. Salivo ao me alimentar do que o outro me dá. Dá-me o corpo, a alma, um pedaço de pescoço, um pedaço da bunda, o pedaço do útero. Se joga na minha panela para que eu possa te provar.

Depois de horas cozinhando, as coisas se dissolveram dentro da panela e se misturaram uma a outra. Quem sabe o que é o que? O que eu como aqui, eu não sei o que é. O que será que estou comendo? Um pedaço de flor ou um pedaço do mundo?

Dentro da minha panela só existe espaço para o todo, não o separado. Prova-te.