segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Nas ondas do mar


é coração do tamanho de uma amendoim cheio de angustia. é necessidade de chorar, de limpar a alma, mas que falta lugar para fazer, falta dignidade, falta coragem de chorar.

E nem tem cigarro, vinho, nem meu melhor afago de amigo pra me salvar. talvez nas ondas do mar, talvez nas brincadeiras de criança, talvez nos abraços de um menino de 10 anos que me ama sem precisar dizer, que diz que não vai me soltar nunca mais. talvez dentro do mar, em mim, no meu mar, eu me encontre noutro lugar, sem esse peso de sempre, sem essa renuncia, sem o drama, sem esse amor que dói. talvez eu me encontre na minha cura juvenil, na fuga do que corrói, na fuga do que é belo, mas é vulgar.

Minha vida se resume a tecladinhos tristes, um copo de vinho, caderninhos com minhas tristezas escritas, minhas canções que me enobrecem a vida e as cores.

Mas é que hoje o dia se resume a vontade de chorar, lembranças e vontade de esquecer. Pega aquela estradinha e segue, vá lá. Volta não, pequena, porque a hora que você vem é muito cedo pra mim...

"Quando lhe faltar razão, que enfim fale o coração".



sábado, 22 de dezembro de 2012

Quarta e Quinta


Ainda era cedo quando acordou antes de mim e deitou nas minhas pernas, fiz carinho na sua cabeça enquanto ainda decidia se acordava ou dormia. Querer bem. Ela é dona do mais amável lugar, é tão meu lar, tem cheiro de infância, tem gosto de suco de maracujá. É de um carinho de outra vida, tenho certeza, pois como hei de explicar, então, essa afinidade tão grande entre nós? Segura minha mão, meu bem. Segura minha mão pra eu dormir em paz. Deixa o videogame ligado caso eu perca o sono... mas quem disse que se perde o sono quando existe conforto no coração? 

Obrigada, lolô, por ser tão legal comigo. Por me xingar, por apontar os meus defeitos com tanto carinho, por cuidar de mim quando eu nem sei o que dizer... É chorar no escuro e você perceber e só segurar minha mão. Coisa boba, eu sei, mas é você que me expulsa e me abraça num mesmo impulso.

Um dia você ainda vai separar uma gaveta pra mim...

domingo, 9 de dezembro de 2012

feliz pra cachorro

Assim que cheguei me abraçou calada, me transbordando de amor. É como um filme francês, um tocador de sanfona triste, pessoas ébrias sendo sugadas pelo sentir, se entregando àquilo como se o amanhã não fosse amanhecer. O desejo de ficar.
A completude e eu somos a mesma coisa nesse momento. Da boca sai palavras de poesia, mas ela não lê muita poesia não, prefere romance. Deve ser por isso que ela é feita de versos e deve ser por isso que ela brilha quando silencia. O silêncio não é constrangedor com ela, o silêncio é só silêncio, a pausa do pensar, é o tempo de pegar no dedinho dela e acarinha-la a unha, como uma pessoa que faz carinho só por querer acarinhar. Ela entende e nesse entendimento me beija a alma, como quem não quer nada também, só pelo ato de beijar algo que gosta. A gente se beija de outros jeitos, a boca não é mais tão necessária, não cabe mais.
Às vezes nem tenho o que falar, até porque nem tem o que dizer. Só que ela me faz ser eu e eu sou ela e ela me faz completo na minha incompletude. Já passou a muitas léguas do amor, já tá muito lá na frente. É vontade só de olhar, admirar os detalhes daquele corpo que já foi tão maltratado e querer cuidar daquele coração que nem é mais o mesmo... É sentir o cheiro do corpo, do cabelo, é beijar as mãos, beijar as pálpebras. É âncora e balão. Âncora que prende na realidade, que põe no chão; balão que eleva, que põe no céu pra ver de cima a vida de vez em quando. O que me põe pra cima é mais forte do que o que me põe pra baixo, sempre será.
Tem gente que gosta de ler poesia, que conhece sua estrutura e a semântica. Sabe interpretá-la e julgá-la como bem entender. O entendimento da poesia perpassa a realidade, perpassa o entendimento, tá no âmago, na alma, no eu, no nu, no defeito, no desajeito, na falta, na loucura. O que é poesia? No que se consiste o ser poeta? A poesia se vive e nem se entende, viu?
Eu gosto no que ela me transformou: menino morrendo de sede. E o meu amor é do tamanho da minha sede. E a minha paz é o copo d'água tomado desesperado, molhando os cantos da boca. Lambuza-se ou solta a minha mão.


"Desde que te vi, não tenho enjoeira, nem segunda-feira ou canseira no meu coração"
Cê entende, né, pequena?