segunda-feira, 1 de abril de 2013

hora do almoço

Sou uma panela de barro grande. Misturo em mim todos os ingredientes do mundo, atrás dos sabores mais diversos, buscando o sabor que não consigo dar nome. Misturo em mim o tempero de todo mundo, me alimento da diversidade do outro, a diferença do outro, do cheiro que o outro dar a casa. Dentro da minha panela, coloco pedaços das mais variadas pessoas, misturo com leite ou vinho, sal ou açúcar, afim de chegar no ponto exato do meu paladar. Experimento todos os pedaço separadamente, saboreando o que cada pedacinho me dá: sabor e êxtase. Paladar é êxtase. Orgasmos culinários. Eu mastigo todos os pedaço de todo mundo para, assim, me constituir no meio do meu ego. Salivo ao me alimentar do que o outro me dá. Dá-me o corpo, a alma, um pedaço de pescoço, um pedaço da bunda, o pedaço do útero. Se joga na minha panela para que eu possa te provar.

Depois de horas cozinhando, as coisas se dissolveram dentro da panela e se misturaram uma a outra. Quem sabe o que é o que? O que eu como aqui, eu não sei o que é. O que será que estou comendo? Um pedaço de flor ou um pedaço do mundo?

Dentro da minha panela só existe espaço para o todo, não o separado. Prova-te.