domingo, 9 de dezembro de 2012

feliz pra cachorro

Assim que cheguei me abraçou calada, me transbordando de amor. É como um filme francês, um tocador de sanfona triste, pessoas ébrias sendo sugadas pelo sentir, se entregando àquilo como se o amanhã não fosse amanhecer. O desejo de ficar.
A completude e eu somos a mesma coisa nesse momento. Da boca sai palavras de poesia, mas ela não lê muita poesia não, prefere romance. Deve ser por isso que ela é feita de versos e deve ser por isso que ela brilha quando silencia. O silêncio não é constrangedor com ela, o silêncio é só silêncio, a pausa do pensar, é o tempo de pegar no dedinho dela e acarinha-la a unha, como uma pessoa que faz carinho só por querer acarinhar. Ela entende e nesse entendimento me beija a alma, como quem não quer nada também, só pelo ato de beijar algo que gosta. A gente se beija de outros jeitos, a boca não é mais tão necessária, não cabe mais.
Às vezes nem tenho o que falar, até porque nem tem o que dizer. Só que ela me faz ser eu e eu sou ela e ela me faz completo na minha incompletude. Já passou a muitas léguas do amor, já tá muito lá na frente. É vontade só de olhar, admirar os detalhes daquele corpo que já foi tão maltratado e querer cuidar daquele coração que nem é mais o mesmo... É sentir o cheiro do corpo, do cabelo, é beijar as mãos, beijar as pálpebras. É âncora e balão. Âncora que prende na realidade, que põe no chão; balão que eleva, que põe no céu pra ver de cima a vida de vez em quando. O que me põe pra cima é mais forte do que o que me põe pra baixo, sempre será.
Tem gente que gosta de ler poesia, que conhece sua estrutura e a semântica. Sabe interpretá-la e julgá-la como bem entender. O entendimento da poesia perpassa a realidade, perpassa o entendimento, tá no âmago, na alma, no eu, no nu, no defeito, no desajeito, na falta, na loucura. O que é poesia? No que se consiste o ser poeta? A poesia se vive e nem se entende, viu?
Eu gosto no que ela me transformou: menino morrendo de sede. E o meu amor é do tamanho da minha sede. E a minha paz é o copo d'água tomado desesperado, molhando os cantos da boca. Lambuza-se ou solta a minha mão.


"Desde que te vi, não tenho enjoeira, nem segunda-feira ou canseira no meu coração"
Cê entende, né, pequena?