Tenho dormido tarde da noite, não por insônia ou por vontade própria, mas acho que por uma força maior que me faz passar horas pensando na minha vida. Que egoismo o meu pensar apenas na minha própria vida. Analisar suas próprias ações, tentar domar suas próprias emoções e aceitar todos os seus defeitos e viver bem com eles... é meio difícil. Tentar lidar com a ansiedade que aperta o pescoço todo santo dia, em situações que ela seria melhor engaiolada num lugar escuro; tentar manter a calma enquanto seu corpo todo treme enquanto seu cérebro te manda agir ou fugir, na tentativa precária de buscar abrigo no sossego; é tentar me calar quando no fundo eu quero gritar, gritar no ouvido de quem não me escuta direito, falar o que de mais bonito existe no âmago, nas vísceras.
Durmo tarde tentando fugir do dia, pois quanto mais tarde se dorme, mais tarde se acorda. Estou me proibindo de ver o sol nascer, por mais bonito que ele seja.
Porque quanto mais eu durmo, mais eu sonho, mas são sempre sonhos secos, desesperançosos, opacos - correspondentes a vida do lado de fora da cabeça.
Durmo para não ter essa esperança eterna que jura ser minha, que nunca vai embora e me acorda todos os dias... Olhar o mundo com esperança é até bonito, mas dói como um corte de papel no dedo.
Mas quando vou dormir, dou beijo na minha esperança, no meu coração cansado e nas pessoas a quem detenho tanto amor... Não merecem.
Quais seriam as vantagens de dormir além?